sábado, 7 de julho de 2018

A Lição das Gavetas


     Uma pequena faxina no meu quarto me fez recordar que na minha infância tive uma certa implicância com gavetas. Talvez pela pouca coordenação motora de criança, talvez porque tivesse poucas coisas com que me preocupar. Não admitia aquela lógica das gavetas que só abriam até a metade, enquanto o que ficava lá atrás não poderia ser visto e, se isso fosse possível, seria feito com alguma dificuldade.
     Outras gavetas deslizavam fácil demais, acabavam saindo dos trilhos e acertando o sempre dedo mindinho do pé que se atreveu a ficar em seu caminho. Outras vezes eram aquelas várias gavetas que aceitavam tudo de todos, uma em cima da outra, e de tão cheias não conseguiam mais abrir ou puxavam a outra junto. Gavetas engolidoras de papel ou que adoravam sumir com a minha coleção de brinquedos do Kinder Ovo ou com a minha coleção de tazos. E o dia de arrumá-las? Antes era preciso decidir o que ficaria na frente, de forma mais acessível e o que deveria ficar guardado de verdade. Cansava só de pensar!
     Claro que, depois de crescida, me redimi à grande função das gavetas. Apesar de algumas vezes eu ainda utilizá-las de forma inadequada ou pouco eficiente.  
       O fundo das gavetas, se capazes de falar, seriam grandes contadores de histórias. Lá estão esquecidos longínquos passados, comprovantes ilegíveis, canetas sem carga, fotografias, anotações, cartões de aniversário, algumas traças e outras coisas mais. Após uma atenção maior dada às gavetas, o cesto de lixo se farta com tanta quinquilharia e, consequentemente, há mais espaço, menos traças e mais organização.
       Quem poderia imaginar que depois de alguns anos em pé de guerra com as gavetas, elas mesmas me dariam uma lição de vida para a vida? Afinal de contas, em determinados momentos a nossa história se comporta como uma legítima gaveta. Algumas vezes somos aquelas que se abrem só pela metade, outras vezes aquelas que deslizam demais e saem dos trilhos, em outros momentos somos aquelas que aceitam tudo de todos, que acumulam quinquilharias até não conseguir mais sair do lugar e assim por diante.
        A partir dos comparativos, o melhor mesmo é se manter em equilíbrio e extrair o que de melhor pode se extrair da lição das gavetas: guardar o essencial e o resto é o resto. Caso haja acúmulo, emperra, some e abafa o que é importante. Então, fuja das traças e seja uma gaveta organizada! 

Dayana.

Imagem: 

<http://jscristo.com.br/uploads/DOMINIO/Artigos/caveta-desarrumada1.jpg>



quinta-feira, 31 de maio de 2018

As Consequências do Amor

Em meio às esperas e filas do dia-a-dia,
os vários fios de cabelo branco
denunciavam os longos anos daquele casal.

Enquanto isso, 
os gestos de carinho 
denunciavam uma longa vida de cumplicidade, respeito, felicidade
e muito amor.

Do meu lugar, observei-os chegar...

As pernas do senhor moço
já um pouco enfraquecidas
Contavam com o apoio 
dos fortes braços da senhora moça
que o conduzia com todo o cuidado,
como se em suas mãos
houvesse um bem precioso.

E quem disse que não havia?

Por vários momentos 
os meus olhos me conduziram 
para voltar àquela cena...
Sentaram- se um ao lado do outro

As mãos não se soltaram
Ela conduziu a mão dele 
até seus lábios e selou um beijo.
Ele, reciprocamente, 
fez o mesmo, 
fixando os seus olhos 
aos olhos dela.

A uns poucos metros de distância, 
pude sentir a profundeza 
daqueles olhares...

Ela deu-lhe um beijo na bochecha
Ele a devolveu
Ela deu-lhe um beijo na testa
Ele a devolveu
E depois disso, 
ela se aconchegou no ombro dele,
que, retribuindo o gesto,
reclinou a cabeça sobre a dela.

A essa altura, sem perceber, 
me denunciei ao emitir um singelo, 
mas perceptível ruído de sorriso.
Disfarcei.

Talvez eu nunca mais os veja,
Mas sua imagem e seus gestos
Ficarão guardados.
Em texto, em memória, 
do jeito que for
Só sei que são lindas
As consequências do amor.

Dayana.

Imagem: br.pinterest.com

sábado, 26 de maio de 2018

Permita-se

Acabei de reler uma página de mim
cheia de gratidão,
duas páginas antes lamentação,
outras cinco felicidade e
depois mais dez, tempestade.
Adiante havia saudade,
outras três, registros de incerteza
planos futuros e um tanto de poesia,
enfeitando os dias pintados de cinza.

São essas as nuances da vida
São essas as nuances da minha vida
Ora cor, ora orvalho
Ora seco, ora molhado.

Ninguém vive sorrindo a todo tempo.

Permita-se viver os próprios desertos
Permita-se jogar os pés pro teto
Abraçar os joelhos
E ser sua melhor companhia.
Permita-se!

Permita-se chorar se preciso for,
mas também permita-se sorrir
Para aliviar a dor.
Permita-se!

Permita-se viver
Uma coisa de cada vez.
Não passe para a próxima fase
Sem completar a primeira.
Cada degrau será importante
Permita-se viver cada instante.
Sem pressa,
Permita-se!

Dayana.

domingo, 20 de maio de 2018

DNA


Nos tempos da escola
em meio a uma aula de ciências, 
descobri o sentido da vida.
Dali em diante cada detalhe
se tornava surpreendente:
um piscar de olhos, uma gota d'água,
a forma das flores, a diversidade da vida, 
o pulsar do coração, o soprar do vento, 
etc., etc.

Descobrir o sentido da vida
trouxe-me um outro olhar.
Tudo era mais colorido,
mais interessante.
Pude sentir o sabor da vida.

Um sabor sofisticado: ora doce,
ora amargo, um pouquinho azedo
e depois salgado.

Algum tempo depois 
descobri o DNA 
era só o que faltava 
para eu me apaixonar.

De algum jeito eu sabia
que toda aquela complexidade
tinha algo a me ensinar.

Além do sentido da vida
descobri que
para que a vida
continue
a fazer sentido
é preciso duplicar,
mas também se soltar,
se desprender de algumas partes, 
daquelas que precisam ir .

Partes só por um instante,
pois toda a parte tem o seu todo
e um dia
elas se encontram por aí.

Dayana.


quarta-feira, 16 de maio de 2018

Colcha de Retalhos

Ainda que não consigas largar os teus trapos, confie-os a Deus.
Ele te voltará uma linda colcha de retalhos.
Além de bela, te servirá de alento no cansaço, te protegerá dos piores ventos e te aquecerá nas mais frias noites de inverno.

Dayana.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

"O Essencial é Invisível aos Olhos"

Certo dia resolvi ir para a cozinha.
Sabia o que eu queria,
mas não fazia ideia dos ingredientes
e de como misturá-los para obter o produto final.

Em uma gaveta, achei uma velha receita.
A folha já meio amarelada e amassada
trazia um rabisco dos ingredientes
e a pior frase que um cozinheiro
de primeira viagem pode se deparar:
adicione a gosto!

Estranhei o modo de preparo,
aquilo não parecia coerente.
Apesar disso, pela minha inexperiência
confiei naquele outrem
que um dia registrou tal receita. 

Reuni os ingredientes,
separei o que iria utilizar
reli a receita e segui em frente.

Na adição dos primeiros ingredientes
aquela gororoba ficou bem estranha.
Parti para o YouTube,
peguei umas dicas: cada um dizia
uma coisa diferente!
Acabei me perdendo e decidi
ir pela intuição.

A gororoba deu uma encorpada
e eu pensei: agora vai!
Misturei tudo, coloquei no forno,
olhei de 5 em 5 minutos
e...

Vamos tentar de novo!

Reuni todos os ingredientes novamente,
reli a receita,
consultei outros canais no YouTube
e... forno!

Depois de tanto investir tempo
depois de tanto investir nos ingredientes
depois de tanto acreditar que daria certo
avistei uma dobra na folha da receita.

Quem diria eu,
depois de ter tentado tantos meios,
depois de ter passado tanto tempo
o que faltou de verdade
foi o fermento. 


Dayana.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Aquele Casaco

A brisa fria de fim do outono já se faz presente.
Ao abrir o armário avistei aquele casaco que eu tanto gostava, já meio esquecido desde o último inverno.
Subtamente, aquele casaco, me recordou bons passeios, boas conversas, noites frias que foram aquecidas  e...me lembrei que estava atrasada, peguei ele mesmo e fui embora.

Ao vestí-lo, mais tarde, reparei que já não se acomodava tão bem como antes. Haviam marcas do tempo em sua costura e um dos bolsos fez com que eu perdesse algumas moedas.
Não sei se o frio estava demasiadamente severo naquele dia, mas aquele casaco já não me aquecia como antes.
Passei um pouco de frio, perdi uns trocados e ao findar do dia, precisei tomar uma cruel decisão: era chegada a hora de me desfazer daquele casaco ou o guardaria para os dias menos frios? 

Olhei para aquele casaco, o dobrei, desdobrei, olhei novamente e como se não pudesse ser diferente, acomodei-o em um cabide, o mais escondido possível, para que na hora da pressa eu não corresse o risco, por descuido, de passar frio e perder uns trocados novamente.

Aquele casaco, já me aqueceu.
Aquele casaco, já não me aquece.
Aquele casaco, guardei.


Dayana.

domingo, 21 de janeiro de 2018

Borra de café

Experimentando um pouco de vida daqui
e outra dali,
inevitavelmente
alguma experiência
fica no fundo do copo.
Assim como borra de café
vai desenhando caminhos:
preto no branco,
sem muita beleza,
definição ou cor.
Deixa rastros,
aroma e sabor.
   
Dayana.


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Quando

Quando os seus olhos se fixarem em algo ou em alguém,
saiba que ali pode estar o seu próximo passo.
Quando algumas opiniões alheias sobre você
te influenciarem mais do que aquilo que você conhece de si mesmo,
saiba que é preciso acreditar mais em você.
Quando você projetar mais o futuro do que o agora, pare.
É agora!
Quando se sentir perdido, sem rumo.
Ore!
Quando a saudade apertar no peito, chore!
Isso lava a alma.
Quando, da noite para o dia, tudo ficar diferente.
Creia!
Enquanto houver vida, 
haverá diversos recomeços a sua frente.

Para tudo há um tempo!

Dayana.