Uma pequena faxina no meu quarto me fez recordar que na
minha infância tive uma certa implicância com gavetas. Talvez pela pouca
coordenação motora de criança, talvez porque tivesse poucas coisas com que me
preocupar. Não admitia aquela lógica das gavetas que só abriam até a metade, enquanto
o que ficava lá atrás não poderia ser visto e, se isso fosse possível, seria
feito com alguma dificuldade.
Outras gavetas deslizavam fácil demais, acabavam saindo dos
trilhos e acertando o sempre dedo mindinho do pé que se atreveu a ficar em seu caminho.
Outras vezes eram aquelas várias gavetas que aceitavam tudo de todos, uma em
cima da outra, e de tão cheias não conseguiam mais abrir ou puxavam a outra
junto. Gavetas engolidoras de papel ou que adoravam sumir com a minha coleção
de brinquedos do Kinder Ovo ou com a
minha coleção de tazos. E o dia de arrumá-las? Antes era preciso decidir o que ficaria
na frente, de forma mais acessível e o que deveria ficar guardado de verdade. Cansava
só de pensar!
Claro que, depois de crescida, me redimi à grande função
das gavetas. Apesar de algumas vezes eu ainda utilizá-las de forma inadequada
ou pouco eficiente.
O fundo das gavetas, se capazes de falar, seriam grandes
contadores de histórias. Lá estão esquecidos longínquos passados, comprovantes ilegíveis,
canetas sem carga, fotografias, anotações, cartões de aniversário, algumas
traças e outras coisas mais. Após uma atenção maior dada às gavetas, o cesto de
lixo se farta com tanta quinquilharia e, consequentemente, há mais espaço,
menos traças e mais organização.
Quem poderia imaginar que depois de alguns anos em pé de
guerra com as gavetas, elas mesmas me dariam uma lição de vida para a vida? Afinal
de contas, em determinados momentos a nossa história se comporta como uma legítima
gaveta. Algumas vezes somos aquelas que se abrem só pela metade, outras vezes
aquelas que deslizam demais e saem dos trilhos, em outros momentos somos
aquelas que aceitam tudo de todos, que acumulam quinquilharias até não
conseguir mais sair do lugar e assim por diante.
A partir dos comparativos, o melhor mesmo é se manter em
equilíbrio e extrair o que de melhor pode se extrair da lição das gavetas: guardar
o essencial e o resto é o resto. Caso haja acúmulo, emperra, some e abafa o que
é importante. Então, fuja das traças e seja uma gaveta organizada!
Dayana.
Imagem:
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