quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Se a gente não se percebe...

 Se a gente não se percebe, vem a vida e nos leva embora. Com essa frase confesso que acabei de me dar conta de uma coisa: dentro de poucos dias, se eu não me atrevesse a me reencontrar por aqui, quebraria uma tradição


de mais de 10 anos...

Desde 2010 trago registros de pensamentos e sentimentos neste espaço que se tornou um refúgio. Em todos os anos seguintes, desde então, há pelo menos um texto por ano. Os anos com mais textos, foram os mais sofridos. Talvez os mais recentes tenham sido anos mais serenos. Quase não registrei nada por aqui. Pura ilusão! 

A vida adulta nos acelera. É preciso dar conta de muitas coisas, os dias parecem mais curtos e a gnt acaba se deixando para trás. 

Quanta estupidez! Por acaso não precisamos estar bem para que tudo funcione bem? 

Pode parecer meio bobo, mas escrever é terapêutico para mim. Há muitos textos meus perdidos em cadernos já amarelados esquecidos pela casa. Talvez pela ilusão de que daqui a uns 500 anos alguém os encontre e possa recontar um pouco da história do povo esquisito que viveu no século XXI. 

Esses textos que aqui estão são pensamentos compartilhados. Talvez você possa aquecer seu coração com eles, de alguma forma. E Isso me deixa extremamente feliz e satisfeita. Além de grata, é claro, por você estar doando parte do seu tempo para partilhar um pouco da sua vida com a minha. 


Um abraço fraterno, 


Dayana. 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

A ponta do novelo


Que 2020 foi um ano diferente ninguém há de discordar.
Na verdade, vivemos tempos difíceis.
Não é difícil só por fora, mas por dentro também.
Não sei se você se sente assim, mas aqui dentro
as vezes parece embolado pra mim.

É como um grande novelo de lã
que esquecido à própria sorte
seguiu caminhos diversos e se enrolou
mais e mais em si mesmo,
sem que se percebesse seu início e seu fim. 

Engraçado é que uma rápida pesquisa no Google
nos trás alguns tutoriais de como encontrar a ponta do bendito novelo.
Mas, não havia tutorial para encontrar a ponta do meu novelo.
Assim, percebi que eu mesma teria que abraçar esse desafio. 

Não sabia por onde começar, mas comecei.
Parecia que quanto mais eu mexia,
mas difícil ia se tornando a tal tarefa.
Pensei em desistir,
era um novelo grande demais que me fazia tropeçar.
Chorei, me dei por vencida, mas não desisti.
Vi que sozinha não dava,
pedi ajuda e era justamente o que faltava:
Um olhar de fora, atento ao todo e não apenas aos nós.
Não pense, no entanto, que encontrei a ponta do meu novelo de imediato.
Ora, só filmes tem finais felizes esperados!

Ter outros olhos me ajudando a perceber
o caminho daquele embaraço
me fizeram não ter medo do que vinha pela frente.
Eles me ajudaram a puxar  um pouco mais pra direita, menos pra esquerda, afrouxar as laterais e assim, depois de muito suor, encontrei a ponta do novelo.

Sigo puxando e descobrindo nós passados que já não me fazem tropeçar.
Desfazê-los me traz o sabor da experiência de me encontrar
e a certeza de que pelo menos aquele nó não vai mais me embaraçar. 

Dayana.

sábado, 5 de janeiro de 2019

A Outra Cidade

Ao longe
os medos iam
a curtos passos
caminhando
até que os perdi de vista.

Outra gente
novos sorrisos
outras memórias
outros ventos
e que ventos!

Um soco de autodisciplina
um autoencontro
noites em claro
ansiedade
um saudoso pôr-do-sol
e assim me encontro
em outra cidade.

Dayana.













Momento

As novas atribuições do dia a dia roubam as palavras soltas e naturais.
Não quero ser escrava do tempo, antes preciso organizá-lo e assim me ajustar.
Não posso ser escrava do tempo. Não podemos, não devemos.
Não quero ser escrava do passado, não posso ser escrava do passado. Não podemos, não devemos.
As lições de outrora fizeram-me enxergar a figura escondida no espelho, a quem hoje tanto amo.
Os cenários alaranjados das 18h emoldurados pela minha janela me fazem sorrir, mesmo em dias pesados.
As novas atribuições do dia a dia me fazem crescer.
Às novas atribuições do dia a dia, devo agradecer.

Dayana.

Foto: arquivo pessoal. 

sábado, 7 de julho de 2018

A Lição das Gavetas


     Uma pequena faxina no meu quarto me fez recordar que na minha infância tive uma certa implicância com gavetas. Talvez pela pouca coordenação motora de criança, talvez porque tivesse poucas coisas com que me preocupar. Não admitia aquela lógica das gavetas que só abriam até a metade, enquanto o que ficava lá atrás não poderia ser visto e, se isso fosse possível, seria feito com alguma dificuldade.
     Outras gavetas deslizavam fácil demais, acabavam saindo dos trilhos e acertando o sempre dedo mindinho do pé que se atreveu a ficar em seu caminho. Outras vezes eram aquelas várias gavetas que aceitavam tudo de todos, uma em cima da outra, e de tão cheias não conseguiam mais abrir ou puxavam a outra junto. Gavetas engolidoras de papel ou que adoravam sumir com a minha coleção de brinquedos do Kinder Ovo ou com a minha coleção de tazos. E o dia de arrumá-las? Antes era preciso decidir o que ficaria na frente, de forma mais acessível e o que deveria ficar guardado de verdade. Cansava só de pensar!
     Claro que, depois de crescida, me redimi à grande função das gavetas. Apesar de algumas vezes eu ainda utilizá-las de forma inadequada ou pouco eficiente.  
       O fundo das gavetas, se capazes de falar, seriam grandes contadores de histórias. Lá estão esquecidos longínquos passados, comprovantes ilegíveis, canetas sem carga, fotografias, anotações, cartões de aniversário, algumas traças e outras coisas mais. Após uma atenção maior dada às gavetas, o cesto de lixo se farta com tanta quinquilharia e, consequentemente, há mais espaço, menos traças e mais organização.
       Quem poderia imaginar que depois de alguns anos em pé de guerra com as gavetas, elas mesmas me dariam uma lição de vida para a vida? Afinal de contas, em determinados momentos a nossa história se comporta como uma legítima gaveta. Algumas vezes somos aquelas que se abrem só pela metade, outras vezes aquelas que deslizam demais e saem dos trilhos, em outros momentos somos aquelas que aceitam tudo de todos, que acumulam quinquilharias até não conseguir mais sair do lugar e assim por diante.
        A partir dos comparativos, o melhor mesmo é se manter em equilíbrio e extrair o que de melhor pode se extrair da lição das gavetas: guardar o essencial e o resto é o resto. Caso haja acúmulo, emperra, some e abafa o que é importante. Então, fuja das traças e seja uma gaveta organizada! 

Dayana.

Imagem: 

<http://jscristo.com.br/uploads/DOMINIO/Artigos/caveta-desarrumada1.jpg>



quinta-feira, 31 de maio de 2018

As Consequências do Amor

Em meio às esperas e filas do dia-a-dia,
os vários fios de cabelo branco
denunciavam os longos anos daquele casal.

Enquanto isso, 
os gestos de carinho 
denunciavam uma longa vida de cumplicidade, respeito, felicidade
e muito amor.

Do meu lugar, observei-os chegar...

As pernas do senhor moço
já um pouco enfraquecidas
Contavam com o apoio 
dos fortes braços da senhora moça
que o conduzia com todo o cuidado,
como se em suas mãos
houvesse um bem precioso.

E quem disse que não havia?

Por vários momentos 
os meus olhos me conduziram 
para voltar àquela cena...
Sentaram- se um ao lado do outro

As mãos não se soltaram
Ela conduziu a mão dele 
até seus lábios e selou um beijo.
Ele, reciprocamente, 
fez o mesmo, 
fixando os seus olhos 
aos olhos dela.

A uns poucos metros de distância, 
pude sentir a profundeza 
daqueles olhares...

Ela deu-lhe um beijo na bochecha
Ele a devolveu
Ela deu-lhe um beijo na testa
Ele a devolveu
E depois disso, 
ela se aconchegou no ombro dele,
que, retribuindo o gesto,
reclinou a cabeça sobre a dela.

A essa altura, sem perceber, 
me denunciei ao emitir um singelo, 
mas perceptível ruído de sorriso.
Disfarcei.

Talvez eu nunca mais os veja,
Mas sua imagem e seus gestos
Ficarão guardados.
Em texto, em memória, 
do jeito que for
Só sei que são lindas
As consequências do amor.

Dayana.

Imagem: br.pinterest.com

sábado, 26 de maio de 2018

Permita-se

Acabei de reler uma página de mim
cheia de gratidão,
duas páginas antes lamentação,
outras cinco felicidade e
depois mais dez, tempestade.
Adiante havia saudade,
outras três, registros de incerteza
planos futuros e um tanto de poesia,
enfeitando os dias pintados de cinza.

São essas as nuances da vida
São essas as nuances da minha vida
Ora cor, ora orvalho
Ora seco, ora molhado.

Ninguém vive sorrindo a todo tempo.

Permita-se viver os próprios desertos
Permita-se jogar os pés pro teto
Abraçar os joelhos
E ser sua melhor companhia.
Permita-se!

Permita-se chorar se preciso for,
mas também permita-se sorrir
Para aliviar a dor.
Permita-se!

Permita-se viver
Uma coisa de cada vez.
Não passe para a próxima fase
Sem completar a primeira.
Cada degrau será importante
Permita-se viver cada instante.
Sem pressa,
Permita-se!

Dayana.