Vi um casal de idosos,
diferente daqueles que vemos nos comerciais. Era um casal real, da vida real.
Pareciam irritados, presos na triste realidade de se suportarem até o fim de
seus dias. Tanto sabiam um do outro, tanto já partilharam, se amaram, se ajudaram,
mas o que restou foram as lembranças amargas dos dias pesados. O amor se foi,
poderia dizer, mas como sou adepta da ideia de que o amor não acaba, nesse
caso, devo dizer que ele está em algum lugar, muito bem guardado. Até um pouco
sufocado. Não se deixa transparecer, não exala perfume algum. Nenhum sorriso,
nenhuma cumplicidade. Pelo contrário, haviam acusações. Acusavam-se de uma vida
torpe. Enquanto isso eu pensava: mas e os filhos? Os netos? As lembranças da
juventude? As boas lembranças, enfim, para onde foram? Desceram rio abaixo, passaram,
juntamente com os anos em que viveram juntos – e esses não foram poucos –
pegando carona com as decepções que se represaram e agora jorram por litros sem
fim – concluí.
Porém, um instante de pasmo
e surpresa me desviaram a atenção dessa cena.
Senti-me ingênua, otimista e
jovem demais. Julguei por um momento, calei por outro, soluções me vieram à mente, consenti, me irritei e por fim, não
havia mais o que sentir ou pensar. Só eles sabem o que viram e viveram sobre esse chão. Mas... , não havia espaços
para “mas”.
Um tanto egoísta suspirei
aliviada por aquela não ser a minha história e por saber que na minha, ainda
cabem possíveis “mas, porém, contudo, todavia e entretanto”. É preciso saber viver... e conviver!
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